domingo, 29 de abril de 2012

Maravilhoso poema do Carlos Drummond de Andrade:

QUERO - 


 'Quero que todos os dias do ano
 todos os dias da vida
 de meia em meia hora
 de 5 em 5 minutos
 me digas: Eu te amo.


 Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
 creio, no momento, que sou amado.
 No momento anterior
 e no seguinte
 como sabê-lo?


 Quero que me repitas até a exaustão
 que me amas que me amas que me amas. 
 Do contrário evapora-se a amação
 pois ao não dizer: Eu te amo, 
 desmentes 
 apagas 
 teu amor por mim.


 Exijo de ti o perene comunicado. 
 Não exijo senão isto,
 isto sempre, isto cada vez mais. 
 Quero ser amado por e em tua palavra 
 nem sei de outra maneira a não ser esta 
 de reconhecer o dom amoroso,
 a perfeita maneira de saber-se amado:
 amor na raiz da palavra
 e na sua emissão,
 amor 
 saltando da língua nacional, 
 amor
 feito som
 vibração espacial. 
 No momento em que não me dizes:
 Eu te amo, 
 inexoravelmente sei
 que deixaste de amar-me,
 que nunca me amastes antes. 


 Se não me disseres urgente repetido 
 Eu te amoamoamoamoamo, 
 verdade fulminante que acabas de desentranhar, 
 eu me precipito no caos, 
 essa coleção de objetos de não-amor.' 


Carlos Drummond de Andrade






Abaixo, o Jornalista William Bonner, no programa da Marília Gabriela - (De Frente com Gabi), declamando ao final da entrevista uma parte do poema. Excepcional!






  

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